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Os Gárgulas e o Conselho de Estado


 
Um belo dia estava eu a ver as notícias quando ouvi que Cavaco Silva tinha convocado um Conselho de Estado. Nisso não vi surpresa, visto que o homem não faz outra coisa senão convocar Conselhos de Estado. Surpreendente foi quando entrou Jorge Silva Carvalho, aquele do caso das secretas (não, não é casa dos segredos). Aquele caso que envolvia a On-going e tal (se não sabem do que falo deviam de ponderar começar a ler noticias).

Obviamente que fiquei surpreso, não tanto pelo pormenor de que um tipo qualquer tinha entrado pela minha casa a dentro, mas sim porque o fez com os sapatos sujos com algo que calcou na rua.

- Você devia ter cuidado, não acha? – Perguntei com alguma ira.

- Peço imensas desculpas. – Disse-me ele antes de me dar um murro que me pôs KO.

Quando acordei, estava no Palácio de Belém com os meus congéneres gargulinos AR, JF, PVD e Space Aye.

- Bem-vindos. – Disse-nos Cavaco Silva que nós já não víamos desde a Páscoa de á um ano atrás (para contexto verifiquem: http://osgargulas.blogspot.pt/2012/04/pascoa-com-passos-coelho.html).

- Ah, você é… - Comecei eu a dizer enquando olhava fixamente para ele.

- Sim? – Disse Cavaco Silva com alguma expectativa.

- Beppe Grillo? – Eu perguntei.

- Não! Eu não sou o Beppe Grillo, meus filhos, porquê que insistem em comparar-me com aquele palhaço de meia leca? – Cavaco Silva perguntou com uma quantidade considerável de raiva.

- Talvez pelo circo que tem montado nos últimos tempos, de Conselho de Estado em Conselho de Estado. – Disse Space Aye.

- Alguém cale esse insolente, por favor. – Cavaco Silva pediu antes de prosseguir para o que motivou os Gárgulas estarem no Palácio de Belém – PVD, eu preciso do seu conselho.

- Em que te posso ser útil, meu filho? – PVD perguntou a Cavaco Silva com um tom paternal.

- Eu preciso de ajuda. Estes últimos tempos têm sido muito complicados, eu mal consigo sair á rua. Eu tenho que evitar responder a perguntas chatas sobre a política nacional, que aliás, não sei porque me são sempre feitas visto que só sei de bolo-rei. – Cavaco Silva começou a explicar.

- Já sei, quer que o PVD lhe dê uma moeda de 2€! – JF disse interrompendo Cavaco Silva.

- Ah, faz sentido. Suponho que o Cavaco Silva seja como o JF que também nunca viu uma moeda de 2€. Afinal, a pensão dele nem dá para as despesas. – Space Aye afiançou.

- Nada disso! – Cavaco Silva disse enquanto empunhava uma moeda de 2€ cujo brilho enchia a sala em que se encontravam de luz. Era de facto a moeda de 2€ escolhida de entre muitas moedas de 2€, era a “tal”, a moeda cujo brilho poderia inspirar um mundo melhor… ou isso ou era só uma moeda de 2€ muito brilhante… Onde é que eu fui buscar esta ideia estapafúrdia? Claro que tem que ser uma moeda tão brilhante que muda o mundo, nada mais faria sentido, não acham? Seguindo com o tema anterior, Cavaco Silva mostrava esta gloriosa moeda com tamanho orgulho que podíamos facilmente depreender que de facto era a primeira moeda de 2€ que Cavaco Silva, cuja pensão não cobre as suas despesas, tinha visto na sua vida.

- Tão brilhante… - Disse JF encantado com o brilho daquela gloriosa moeda que por si mesma podia mudar o mundo.

- Ah, já sei. Você quer perguntar ao PVD se devia ou não demitir o Governo por achar que o normal funcionamento das Instituições Democráticas está posto em causa e convocar eleições antecipadas! – Disse eu convicto de que esta a resposta certa.

- Errado! – Disse Cavaco Silva para minha surpresa.

- Então o quê? – Perguntei eu estupefacto.

- Eu não convoquei o PVD e os restantes cronistas do melhor blog que eu e a Maria já lemos para fazer uma pergunta tão inútil. Eu convoquei-vos aqui porque quero ouvir a opinião do PVD sobre um assunto de importância muito, mas muito maior. – Disse Cavaco Silva com um tom sério.

- Mas qual é o assunto, meu filho? – PVD perguntou de novo com um tom paternal.

- Qual o cachecol que devo usar hoje? Eu estou indeciso entre este cachecol com listas negras num fundo branco e este cachecol com listas brancas num fundo negro. São tão diferentes mas não consigo decidir. – Cavaco Silva disse com algum desespero.

- Este é o tal assunto importante? – Perguntei eu estupefacto.

- E eu que pensava que isto era Lisboa, não Milão. – Disse o Space Aye igualmente estupefacto.

- De facto parece-me uma escolha difícil, meu filho. – PVD começou a dizer – Eu iria com o cachecol com listas brancas num fundo negro, dá-te um ar mais sóbrio, o que bem precisas porque de sóbrio não se pode dizer que tenhas muito. – PVD concluiu.

- Muito obrigado. Como é que eu pude ter dúvidas sobre isto? Era tão óbvio! – Cavaco Silva disse para si mesmo antes de si virar para o PVD – Muito obrigado, mestre PVD.

- Isso é tecnicamente um pleonasmo. – Eu comecei a dizer – visto que PVD é também um termo para “mestre” em sânscrito reformado.

- Isso existe? – Space Aye perguntou.

- Não. Não é só o Joseph Smith que pode inventar línguas. Eu também tenho esse direito. Egípcio reformado? Give me a break! – Disse eu para Space Aye numa alusão ao charlatão, quero dizer o “profeta”, que começou o Mormonismo.

- Ok, ele está “off topic”. – Disse Space Aye num inglês razoável.

- Não há problema, é para isso que eu estou aqui. – Disse PVD a Cavaco Silva pondo-lhe a mão no ombro. Cavaco Silva fica emocionado e abraça o PVD.

- Ah, perdão. Eu não devia de tê-lo abraçado. Peço-lhe imensas desculpas. – Disse Cavaco Silva que se prostra aos pés de PVD.

- Não te preocupes, meu filho, estás perdoado. – Disse PVD a Cavaco Silva cujos olhos se encheram de lagrimas.

- Na verdade tenho outro assunto que precisava de falar consigo, PVD. – Disse Cavaco Silva já recomposto.

- Sou todo ouvidos, meu filho. – PVD disse enquanto aguardava pelo assunto importantíssimo que Cavaco Silva queria falar com ele.

- Qual me fica melhor, este ou este? – Cavaco Silva perguntou enquanto mostrava dois narizes de palhaço.

- Eu acho que aquele é melhor. Combina melhor com o seu tom de pele. – Disse AR que acabara de sair da casa de banho.

- Isto é mesmo Milão. – Disse Space Aye que nunca esperou dizer isto dentro do Palácio de Belém.

- Você é mesmo um palhaço, sabia? – Disse eu indignado com o facto de que a preocupação principal de Cavaco Silva se centrar em detalhes ridículos como um cachecol e um nariz de palhaço. Estava ali o PVD, o mais sábio de todos (não sei bem porquê, mas que se lixe), e tudo o que ele lhe pergunta é qual o cachecol e nariz de palhaço que deve usar. Eu devo admitir que aquela moeda era altamente. Era de facto uma boa moeda.

- Outro! Isto é inacreditável. Primeiro aquele Miguel Sousa Tavares, agora você. Logo um dos meus cronistas preferidos. Se bem que o meu cronista preferido é o PVD, claro. Eu não sou um palhaço! Eu sou o maior palhaço! – Cavaco Silva disse enquanto andava de um lado para o outro.

- Pode-me mostrar aquela moeda outra vez? – Perguntou JF que queria ver a gloriosa moeda que tem o poder de mudar o mundo.

- Não! E não me interrompam! – Disse Cavaco Silva antes de prosseguir – Por muitos anos sonhei ser um palhaço. De facto, não só um palhaço, mas sim o maior palhaço de Portugal. Eu sempre quis montar o meu próprio circo e tudo. Por tudo isto me tornei Presidente da República. Mas o meu sonho foi destroçado.

- Eu pensava que ele tinha dito que era o maior palhaço. – Disse eu confuso.

- Esquece, nada nisto faz sentido. – Disse Space Aye com toda a razão.

- Destroçado? – Perguntou JF.

- Sim, destroçado. Destroçado por aquele desgraçado do Sócrates. – Disse Cavaco Silva que aperta o punho ao dizer o nome do seu arqui-rival.

- O Sócrates? Mas o Sócrates já nem sequer é primeiro-ministro. – Disse eu perplexo.

- Exacto! E por isso eu fui ultrapassado. Aquele palhaço agora tem um programa de humor na RTP e tudo. Apetece-me estrangula-lo. – Disse Cavaco Silva.

- Só se for humor negro. – Disse Space Aye.

- Do muito dúbio. Daquele que faz do AR o Ricardo Araújo Pereira. – Disse eu.

- Alguém me chamou? – Disse Ricardo Araújo Pereira que aparecera do nada.

- Não, mas o que faz aqui? – Perguntei-lhe.

- Ah, pensava que íamos filmar um anúncio da Meo aqui. Peço desculpa pelo engano. Ah, e sr. Presidente, fica-lhe bem o nariz. – Disse Ricardo Araújo Pereira antes de sair.

- É um bom comediante ele. – Disse Cavaco Silva antes de prosseguir – Bem, isto traz-me ao último tema. Eu quero juntar-me aos Gárgulas.

- O quê? – Perguntou JF.

- Ouviu-me bem, eu quero juntar-me aos Gárgulas. – Disse Cavaco Silva.

- Desculpe, mas não está nos Gárgulas quem quer, está nos Gárgulas quem pode. – Disse o PVD.

- Por isso é que eu tenho uma proposta para vocês. Eu estou disposto a pagar-vos bem por este favor. – Disse Cavaco Silva mostrando a moeda de 2€ capaz de mudar o mundo.

- PVD, não deveríamos reconsiderar? – Perguntou JF.

- Não. A não ser que ele ofereça a moeda á minha paroquia, aí sim. Agora que penso nisso, não. – Disse PVD.

- Muito bem, não me deixam escolha. Vítor trata deles. – Disse Cavaco Silva para Vítor Gaspar que começou a torturar-nos com relatórios financeiros.

- Com que então não me querem ajudar? Então eu vou fazer-vos pagar. – Disse Cavaco Silva prestes a fazer um sorriso maléfico que interrompe quando Vítor Gaspar adormece.

- Porquê? Eu só queria ser reconhecido como o maior palhaço do país, isso e um autógrafo do PVD. – Disse Cavaco Silva desolado.

- Aqui tem. Um autógrafo meu, e em relação á parte do palhaço isso já é uma realidade. Grande parte dos portugueses já pensam isso á algum tempo. – Disse PVD a Cavaco Silva.

Foi aí que nós decidimos abandonar o Conselho de Estado e fomos comer um hambúrguer ao McDonalds como se nada tivesse passado. Afinal, até viajamos á borla.

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