Fernando Pessoa, esse grande e clássico escritor, tão conhecido e citado por muitos (mais citado do que conhecido, mas fica sempre bem mostrar que se é culto e se conhece as suas obras), deixou-nos uma obra consideravelmente vasta que vale a pena explorar. Pelo menos é o que acho, depois de ter sido obrigado a explora-la. Mas como curioso que sou, não pude deixar de ficar intrigado com algumas passagens de certos poemas deste indivíduo. Vejam por vocês mesmos a riqueza desta estrofe:
"Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!". Até aqui, o quinto verso da Ode Triunfal, não vemos mais do que um motivo para nos rirmos. Mas nada de pôr em causa a profundidade desta belíssima poesia! Nas palavras de Sócrates no Parlamento, "esses risos significam ignorância, sr.deputado".
Vejamos mais á frente:
"Ah poder exprimirme todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto.
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes, óleos e calores e carvões
(...)
Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída
Atirem-me para dentro das fornalhas!
Metam-me debaixo dos comboios!
Espanquem-me a bordo dos navios!
Masoquismo através de maquinismos!
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!
Mais uma vez, ler isto dá-me vontade de rir, mas penso logo no Sócrates e estremeço.
Através da análise destas frases restam dois "será' s":
Ou Fernando Pessoa (que é sem duvida sado-masoquista) estava numa relação sexual enquanto escrevia estes versos, ou era objectófilo.
Mas num outro poema, Pessoa deixa-nos outra pista que pode levar á descoberta da verdadeira orientação sexual do poeta. Vejamos:
(Freddie, eu chamava-te Baby, porque tu eras louro, branco e eu amava-te,
Quantas imperatrizes por reinar e princesas destornadas tu foste para mim!)
Mary, com quem eu lia Burns em dias tristes como sentir-se viver,
Mary, mal tu sabes quantos casais honestos, quantas famílias felizes,
Viveram em ti os meus olhos e o meu braço cingido e a minha consciência incerta,
A sua vida pacata, as suas casas suburbanas com jardim,
Os seus half-holidays inesperados...
Mary, eu sou infeliz...
Freddie, eu sou infeliz...
(...)
in passagem das horas - Alvaro de Campos.
Aqui está, a referência a dois parceiros amorosos, um homem e uma mulher. Ai se a Caras existisse nos anos 30...
Seja como for, quando penso no poema anterior perco a curiosidade, já que o Freddie e a Mary eram provavelmente um pente e uma cotonete. Ás vezes o melhor mesmo é não lermos revistas cor-de-rosa. Querem saber as vidas dos famosos? Peçam-lhes para vos dar um autógrafo e uma dedicatória. Nunca se sabe o que irão descobrir.
PS: Ah, e os heteronimos? Tudo para disfarçar as tendências do Nandinho! Se por acaso um dia entrarem numa máquina do tempo e forem dar com ele, façam-lhe não uma mas 5 entrevistas, para ver qual deles é que é o objectófilo! Será o Alberto Caeiro? O Ricardo Reis? O Alvaro de Campos? O Alexander Search? Ou o próprio Pessoa (a única pessoa que realmente existiu entre todas estas)?
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